20 julho 2013

Alguém sabe a origem da citação de Assunção Esteves?



A 11 de Julho passado, a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, disse: "Não podemos deixar, como dizia Simone Beauvoir, que os nossos carrascos nos criem maus costumes".

O termo não era inovador nessa mesma sessão, porque já antes o "Sr. João Oliveira (PCP)" tinha dito a um secretário de Estado que "Os senhores são uns carrascos!". Pormenores...

O que interessa é que a frase não é nova em Assunção Esteves e é sempre dita na mesma formulação.

A 31 de Maio de 2006, em debate no Parlamento Europeu, sobre a "Situação dos prisioneiros em Guantânamo", disse: Guantânamo não define os limites do direito e da política, mas definir os limites do direito e da política é uma exigência básica dos princípios de justiça. É essa a maior vitória da democracia sobre o terrorismo. Usando as palavras de Simone de Beauvoir, "não podemos deixar que os nossos carrascos nos criem maus costumes".

Mais de um ano depois, a 5 de Setembro de 2007, num outro eurodebate sobre "Luta contra o terrorismo", afirmou: "Não podemos fazer claudicar as bases morais da democracia que assentam justamente nesses valores. Como dizia Simone de Beauvoir, não podemos permitir que os nossos carrascos nos criem maus costumes".

Regressando a 11 de Julho, Nicolau Santos escreveu no Expresso que "Beauvoir escreveu esta frase a propósito da opressão nazi sobre os franceses durante a II Guerra Mundial". Mas não cita a fonte, tal como não o faz Assunção Esteves.

Alguém sabe em que obra ou artigo Simone de Beauvoir escreveu aquela frase?

[actualização: Afinal, também Nicolau Santos estava errado porque "Assunção faz citação em segunda mão": Seria, no entanto, importante, que alguém explicasse a Assunção que é feio fazer uma citação em segunda mão e que é bom confirmar as fontes, regra fundamental para quem tem uma carreira académica. Ora, Simone de Beauvoir não disse; citou, isso sim.

Na realidade, a frase foi escrita por Gracchus Babeuf numa carta à sua mulher. A escritora francesa fez uma citação truncada dessa mesma carta, no ensaio “Oeil pour oeil” que consta da obra L’existentialisme et la sagesse des nations (há edição portuguesa na Esfera do Caos).]

Agradecimentos antecipados e posteriores a Ana Vicente.