19 julho 2009

A acareação de Hamburgo 2/5

Se é possível ter novos jornais e novos leitores, o que fazer aos antigos?

Olhar pela sua sobrevivência, presos num mundo que já não é o deles. Alguns meios precisam de ânimo, de uma declaração de Hamburgo contra o mundo online. É deslocada dos tempos, como o seu título: uma declaração de Hamburgo assinada em Berlim.

A 26 de Junho, o European Publishers Council (EPC) e a World Association of Newspapers reuniram-se em Berlim para preparar o documento que foi entregue a 9 de Julho à comissária para a Sociedade da Informação Viviane Reding, no âmbito da apresentação pública da estratégia para uma “Digital Europe”.

A “marcante declaração adoptada para os direitos de propriedade intelectual no mundo digital” tem dois objectivos, segundo Mathias Döpfner, o CEO do grupo Axel Springer: “a fair share of the revenues, which are already being generated through the commercial exploitation of our content by others, as well as the development of a market for paid content in the digital world”.

Estas legítimas aspirações eram dirigidas aos “motores de busca e outros agregadores”, segundo Döpfner, que não são nomeados no documento. O segundo parágrafo da declaração diz apenas: “Numerous providers are using the work of authors, publishers and broadcasters without paying for it. Over the long term, this threatens the production of high-quality content and the existence of independent journalism”.

A necessidade de manter uma elevada qualidade nos conteúdos é também atirada à cara dos governos. Como disse Pinto Balsemão, CEO da Impresa e presidente do EPC, “without control over our intellectual property rights, the future of quality journalism is at stake and with it our ability to provide our consumers with quality and varied information, education and entertainment on the many platforms they enjoy. In this declaration we call on governments worldwide to support the copyright of authors, publishers and broadcasters on the net”.

Neste mundo e futuro perfeito, uma empresa de media controla os seus direitos de propriedade intelectual na Internet, garante jornalismo de qualidade e dá aos “consumidores” informação, educação e entretenimento nas plataformas à escolha do freguês.

Tudo aquilo que já é possível hoje, notaram bem, e por isso é difícil conter um sorriso. Reforçado quando Balsemão insiste: “Se não houver remuneração dos conteúdos com credibilidade o jornalismo corre graves riscos, a democracia corre graves riscos”.

Mas a salvação de Hamburgo é apenas um agregado de intenções para pavimentar regras num terreno muito desregrado.