25 janeiro 2007

VITAMEDIAS

Podia ser uma forma de feitiço contra feiticeiro mas não é, eu não ajo assim. E para memória futura minha, explico:

Sofia Piçarra, "redactora" do "A Cabra", propôs uma entrevista a 9 de Janeiro para "um artigo sobre os blogues de media portugueses". Depois de lhe explicar que já tinha publicado as minhas ideias aqui e recentemente aqui, insistiu e eu aceitei com "uma simples condicionante: terá de me enviar o texto após a sua publicação (ou o link para o texto). Se concordar, pode usar as minhas respostas". (o negrito é meu)

Hoje descubro que o texto foi publicado a 16 de Janeiro e ainda nada recebi da senhora (eu sei que o mail nem sempre funciona mas...), sob o título "Blogues acima dos media" (pág. 18).

Enfim, a co-autora do texto não só me denomina de professor (o que é mentira e prefigura outorgação de título que não detenho) como, o que não é normal, me lançou 15 perguntas para apenas usar parte de uma. Perda de tempo do lado dela e meu? Exagero? Talvez, mas nada se perde. Aqui vão as nossas perguntas e respostas (não editadas):

- Há quanto tempo existe o blog ContraFactos e Argumentos?
O CF&A existiu inicialmente como newsletter partilhada entre amigos e amigos de amigos desde Fevereiro de 2002. A partir de Setembro desse ano passou a blogue.

- Porquê a opção de um blog e não um site?
Na altura, não fazia sentido ter um site porque a ferramenta de criação dos blogues (nomeadamente o Blogger) já facilitava a disponibilização de conteúdos na Net. O que me interessava eram os textos, não a complicação da tecnologia para criar um site.

- Qual a importância dos blogs de media e tecnologia nestes campos em Portugal?
No lado dos media, foram e são dos mais críticos sobre a sua profissão - porque a conhecem e reconhecem os erros de alguns dos seus pares. Estão mais à vontade para levantar questões sobre o exercício da profissão, tal como para questionar certos blogues - nomeadamente políticos - sobre "agendas escondidas".
No campo da tecnologia, os blogues reproduzem muito o que se encontra em sites
estrangeiros. Não é bom nem mau porque por vezes é dada uma forte visão nacional sobre o tema - o que nem sempre ocorre nos media portugueses.

- Considera que existe um circuito muito reduzido de leitores destes blogs, que acabam por verificar-se serem também autores de blogs do mesmo género, com
referências cruzadas entre si?
De quais? DOs media e tecnlogia? Tem a ver com os interesses de cada um. É normal que jornalistas tendam a ler blogues de jornalistas; que interessados em tecnologia leiam blogues sobre tecnologia. Quem tem blogues, naturalemnte cita estes blogues mas com uma vantagem: também cita blogues de autores estrangeiros. A Web, nestes casos, alarga os horizontes informativos e dilui as fronteiras de acesso à informação.

- Os blogs de media ajudam o cidadão comum a desconstruir a informação que tem ao seu dispôr?
Ajudam. Podiam fazê-lo ainda mais mas poderiam também cair no exagero de divulgar informação da empresa onde trabalham. Como qualquer funcionário, estão sujeitos ao sigilo sobre a empresa e, de forma muito mais sensível, ao sigilo sobre as fontes.
No geral, os blogues de media ajudaram a divulgar - e a potenciar um criticismo sobre - as diversas facetas da actividade jornalística. Nenhuma outra actividade profissional o fez nos blogues com tanta clareza - passe a imodéstia...

- Considera que tornam o consumidor de informação mais exigente?
Sim e ainda bem. Um leitor, ouvinte, telespectador exigente é o que de melhor pode acontecer à actividade jornalística. Exigente não é ser chato: é saber questionar - o que, na sua essência, é aquilo que os jornalistas devem fazer.

- Que tipo de liberdade permite o blog em relação ao trabalho enquanto jornalista?
São diferentes.
No caso do CF&A, nunca tive qualquer problema de "liberdade" porque muito raramente misturo o que escrevo no blogue com coisas que publico.
Também é verdade que escrevo ou cito certas coisas no blogue que, quanto a mim, faziam sentido serem publicadas mas para as quais não tenho tempo de as trabalhar ou espaço nos medias.
Não tenho, pessoalmente, problemas desse tipo de "liberdade".
Se a pergunta visa saber se há mais liberdade no que se escreve, tenho iguais dúvidas. O jornalista pode ser mais opinativo num blogue do que no meio para o qual escreve? Pode. Deve? Então é porque algo está mal no meio de comunicação social para o qual colabora.

- No caso dos jornalistas, o blog permite a liberdade de escrever o que não é permitido no jornal?
Repito: se isso acontece, "é porque algo está mal no meio de comunicação social para o qual colabora".

- Quando um blog se torna uma referência e o seu autor conhecido, e é convidado para surgir ligado a um jornal, como é o caso dos blogs dos jornalistas do Expresso, ou do Ponto e Media, no Público, a tão apregoada liberdade da blogosfera não se torna uma falsa questão?
A questão está errada: esses jornalistas já o eram antes de terem os blogues - eles não foram convidados para serem jornalistas. Alguns "bloggers" - após sucesso dos seus blogues - foram convidados para serem colunistas, escreverem opinião. É diferente.
Nada disto tem a ver com a "liberdade da blogosfera" - seja lá o que isto quer dizer. Qualquer pessoa pode ter um blogue e, se tiver alguma qualidade, ser cativada a escrever para um meio de comunicação social. Nesse sentido, os blogues vieram alargar o leque de potenciais jornalistas ou "opinion makers". Ainda bem.

- No desempenho das suas funções profissionais, já recorreu a um blog como fonte de informação?
Claro. Não fonte única mas como base de trabalho.

- Em Portugal, a bibliografia de media é ainda muito reduzida. Considera que a blogosfera pode ser uma fonte útil e segura de recolha de informação para quem se dedica ao estudo dos media?
Sim mas não única.

- Quais são, para si, os blogs na área dos media de maior referência a nível nacional e internacional?
Não digo. Tal como não encontra no CF&A uma lista de blogues que leio, não gosto de dizer quais são os meus preferidos porque eles variam. É como ler o Público, o DN, o JN, o CM ou outro jornal: há dias que gostamos mais de um do que de outro. Não há qualquer diferença sobre isso quanto aos blogues: num dia gosto mais de uns, noutro sou mais sensível a outros.

- Os blogs de media nacionais produzem conteúdos originais, ou são uma imitação dos blogs internacionais?
É um misto: uns são originais, outros (não é imitação mas) ligam a informação internacional.

- À medida que ganha visibilidade e adeptos, o blog não se torna uma dependência para o autor? Sente a obrigação de actualizar conteúdos diariamente, para corresponder às expectativas dos leitores?
Depende de cada autor. Presumo que no início essa "obrigação" exista - razão
pela qual algumas pessoas desistem rapidamente de escrever em blogues - mas
com o tempo cada um adapta-se ao que quer para o seu blogue.
E não, não sinto nem nunca senti essa obrigação de corresponder ao que os leitores queriam. O blogue é meu, faço o que quero dele - e isso inclui a sua actualização. Não é desrespeito pelos leitores, é respeito por mim próprio.

- Partilha da opinião que a blogosfera vai ditar a morte dos jornais e substitui-los?
Não, basta ler o que escrevi para o I Encontro sobre weblogues em Portugal.
Ainda não mudei de opinião.

- Os blogs são uma tendência passageira, ou vieram para ficar?
Vieram para ficar mas não com o formato e modelo actuais. a Evolução tecnológica vai levá-los a serem outra coisa. O quê? Também eu gostava de saber.

(Perceberam entretanto que interessa é ler o texto d'A Cabra, onde há respostas bem mais interessantes :-)