25 maio 2006

VITAMEDIAS

Estará ou não o mau jornalismo a ganhar ao bom jornalismo? ou "CJ na TV: A má moeda e os blocos de notas falsas no jornalismo"
(notas para uma crítica construtiva)
1) o mau jornalismo - o (péssimo por demasiado interventivo) pivô Ribeiro Cardoso anuncia que "temos de denunciar os maus jornalistas" porque "o bom há, tens que falar sobre o mau", diz ao convidado, um dos dois provedores do DN e do Público e uma investigadora dos media mas sem nenhum jornalista no estúdio.
2) o bom - Felisbela Lopes: a TVI e a SIC não são canais generalistas, "são temáticos, de entretenimento" (aliás, algo que Francisco Rui Cádima vem afirmando há algum tempo pedindo consequências nesse sentido para licenças dadas a canais generalistas); e "são sempre os mesmos que debatem".
3) a dúvida - José Carlos Abrantes: "noticiários na TV pública deviam ser de 30 minutos" porque "tenho direito a ter notícias em pouco tempo". Certo mas e se houver mais mundo noticioso, mais - digamos - notícias?
4) Rui Araújo vela e apela por fontes credíveis - com o que concordo - mas apresenta um alegado "documento confidencial" de que não revela a autoria. Como posso acreditar nele? Afinal, como disse, "não há melhores jornalistas do que os outros portugueses"...
5) Diana Andringa é apresentada pelo mérito de ter desvendado o arrastão de Carcavelos. Outros jornalistas que ela própria cita no documentário são completamente ignorados. Faltaram os blocos de notas ao CJ?

As agências de comunicação ficaram de fora da 2: mas não do CJ. Vejam-se estes recortes: "se estar presente nos jornais, rádios e televisões é importante para os que intervêm no espaço público, se estes procuram obter uma impressão favorável, e se para isso recorrem a especialistas em comunicação, não estão a cometer qualquer crime. Mais: os jornalistas também sabem que esses especialistas os podem ajudar no seu trabalho, pois percebem melhor as suas necessidades, têm disponibilidade para serem contactados a qualquer hora e são muitas vezes necessários para conseguir convencer uma fonte a dar uma informação ou a prestar uma declaração".
É verdade que não cometem qualquer crime mas a sua "disponibilidade" é paga para evitar/contornar/impedir o acesso à fonte, muitas vezes mas nem sempre, principal. Mas quando "a relação entre jornalistas, fontes e a mediação profissional protagonizada pelas agências implica por vezes uma negociação" que "deve ter regras claras" e "não é ilegítima, pois decorre do esforço de todos os órgãos de informação para serem os primeiros a dar esta ou aquela notícia", discordo: não há "por vezes" negociação para dar uma "notícia" quando o jornalista a tem confirmada. Não ser o primeiro a dar não é pecado quando se faz posteriormente melhor.
Por isso (e discordo mais uma vez, porque é problema deles, da recomendação de que "uma fonte ou de uma agência de comunicação apresentar o melhor possível os seus pontos de vista aos jornalistas"), concordo que os jornalistas "têm a obrigação de as avaliar criticamente, pesar a importância da informação, preservarem a sua independência e evitarem a promiscuidade e a falta de transparência", assim como as devem validar sem ser apenas pela fonte emissora.
Finalmente, "é frequente ouvir dizer que esta ou aquela notícia foi "comprada"; nunca de tal vi serem produzidas provas".
Nem eu. Ouvi rumores, li generalidades mas nenhumas provas fundadas. Quando é que os acusadores se atrevem a atribuir nomes?
É fácil generalizar. Mas quando Carrilho alega desconhecer a existência de agências de comunicação - um homem que no dia das eleições autárquicas, acompanhado pela revista Visão, nem sequer compra um calendário aos escuteiros... -, quando Eduardo Prado Coelho apenas as conhece das revistas femininas, e um outro apoiante de Carrilho a Lisboa, Emídio Rangel, dispara para alegados jornalistas que o não são e vai apanhar os cartuchos, isto deixou de ser generalização. Passou a ser uma vergonha política.
Há maus e péssimos jornalistas, há má moeda e blocos de notas falsos no jornalismo. O problema para jornalistas e políticos é o mesmo: "Portugal é governado por políticos que andam nisto há pelo menos trinta anos. Trinta anos! Perpetuam-se, tiram senhas, exercem o poder à vez. Tinham, pelo menos, a obrigação de fazer mais e de fazer melhor. Mas quando saírem de lá, daqui a outros trinta anos, vão devolver o país em pior estado do que o encontraram. Nesse dia, o problema já não será deles. [...] Hoje a política é um problema. É uma espécie de obstáculo ao desenvolvimento do país e ao bem-estar das pessoas. Em vez de solução é um estorvo. Que chocante paradoxo!"
Mude-se no texto a política e (alguns) políticos pelo jornalismo e (alguns) jornalistas e está tudo dito.