12 maio 2006

VITAMEDIAS

Carrilho denuncia polvo na Imprensa: "Em órgãos da Comunicação Social como o 'Público' ou o 'Jornal de Notícias', o 'Expresso' ou o 'Tal & Qual?, o '24 Horas' ou o 'Diário de Notícias', a SIC ou a TVI, a Renascença ou a TSF".
[act.: Corrigido depois de ler que Carrilho refere estes órgãos para um caso específico.]

[act.: Não são novas as críticas à comunicação social vindas de Carrilho, um ministro que tentou passar a tutela da mesma para o seu ministério, algo que viria a suceder já depois da sua saída. Tal como as críticas a Carrilho...

7.11.2000 (DN): [A] dificuldade que existe, nos nossos dias, em introduzir no espaço público elementos de análise ou propostas de reflexão sobre questões de fundo e mesmo a ponderar se esse esforço não estará, afinal - sob a implacável lógica do impacte mediático -, condenado à deturpação, ao desinteresse, à simplificação. Esta questão, absolutamente decisiva, responsabiliza-nos naturalmente a todos. Mas ela interpela de um modo muito particular duas classes: a dos políticos e a dos jornalistas.
Apesar de ambos lamentarem frequentemente - ora na figura do cínico ora na do idiota - o "estado de coisas" a que, neste domínio, se chegou, é bom não nos iludirmos: é deles, da sua prática quotidiana, que depende a evolução de tudo. Conforme se aposte no conteúdo ou no efeito de uma mensagem, se destaque a imprecisão ou a solidez de uma informação, se premeie a insinuação de um rumor ou a persistência de uma investigação, o que se está a decidir em cada uma destas opções é a qualidade ou a degradação do espaço público em que vivemos.

11.8.2001 (texto com Bárbara Guimarães no Expresso, a propósito de rumores anteriores ao seu casamento, acompanhado das fotografias da cerimónia): A dimensão de toda esta sórdida maquinação, urdida em zonas do mundo onde tudo se obtém, tudo é longínquo e tudo está à venda, impõe-nos uma especial obrigação de transparência - e de verdade.
Sobretudo a quem, como nós, se conduz por princípios éticos muitos claros, o que nos leva à decisão de festejar a nossa união e de celebrar o nosso casamento em circunstâncias a preservarmo-nos integralmente de quaisquer intromissões na nossa vida.

12.10.2002 ("Novos xamãs?", Expresso): SÃO três os eixos fundamentais, o motor, da comunicação política contemporânea: os políticos, a opinião pública e os jornalistas. Tudo os liga e distingue, numa teia bem complexa. Mas um dos pontos que mais nitidamente os diferencia é o da legitimidade, da fonte de legitimidade de cada um deles.
É que se a dos políticos é directa, uma vez que ela reside no voto dos cidadãos, e a da opinião pública se prende - sem que se lhe reduza - às sondagens, já a dos jornalistas, que remete sempre para o registo da informação, se apresenta mais débil. [...]
é que este quarto poder sabe bem que, quando abdica dos parâmetros de objectividade, de rigor e de equilíbrio, só essa estratégia lhe permitirá proteger o que é arbitrário e mascarar a sua titubeante legitimidade.
Obsessão que, no «caso português», é certamente intensificada pela atractiva facilidade com que se operam algumas metamorfoses de recorte bem sul-americano (por exemplo, não é de pasmar que um director de jornal possa passar a líder partidário ou que um ex-líder partidário se torne comentador residente da actualidade num jornal televisivo?), com as ruinosas implicações que tais transfigurações têm na credibilidade jornalística e política junto da opinião pública.

3.11.2003 (Eduardo Cintra Torres, Público): Considero a forma como a SIC apresenta a prestação de Santana e de Carrilho uma desonestidade jornalística que deveria ser condenada pelos notáveis da deontologia da profissão, se se preocupassem com coisas sérias, e pela Alta-Autoridade, se ela existisse. Esta crítica não a dirijo a Santana e a Carrilho, embora colaborem na fraude.
Quer um quer outro são políticos no activo que ambicionam subir mais ainda. Carrilho quer chegar à liderança do PS e Santana, que lançou o isco presidencial para ficar na ribalta, pretende colocar-se a jeito para ser o sucessor de Durão Barroso, ambição que não poderia assumir publicamente. Com a sua putativa candidatura presidencial, esvazia a oposição à sua futura candidatura a líder do PSD.
São duas personagens sem autonomia crítica. O que dizem serve as suas ambições políticas e não o directo esclarecimento autêntico, mesmo quando parecem independentes dos seus partidos.
Pior ainda, ambos são chamados semanalmente a falar da sua própria actividade político-partidária e a "comentá-la". Rodrigo Guedes de Carvalho faz-lhes entrevistas. Porque essa é a verdadeira natureza das prestações de Santana e Carrilho: eles são entrevistados todas as semanas em horário nobre. São os únicos políticos entrevistados semanalmente, enquanto políticos em actividade, num dos programas mais vistos da TV - e até são pagos para isso.
Estas circunstâncias criam um tremendo desequilíbrio entre estes dois políticos e os outros protagonistas políticos, desequilíbrio que deveria ser eliminado, mesmo num canal privado.

16.2.2004 (Correio da Manhã, depois de "roubo" de máquina a fotógrafo): De recordar que, há cerca de um mês, o professor manifestou a sua disponibilidade para se candidatar à Câmara Municipal de Lisboa, em entrevista à rádio TSF. A concretizar-se a sua candidatura, Carrilho poderá vir a ter algumas 'dores de cabeça' se se mantiver 'avesso' à divulgação de imagens recolhidas em espaços públicos.

26.2.2004 (Pacheco Pereira sobre a Focus acusar Carrilho de usar a vida privada para se promover politicamente, Público): Assim, um político que fizesse um discurso moralista sobre o casamento deveria ver denunciadas as suas amantes. Tais práticas são comuns nalgum jornalismo anglo-saxónico. Combati sempre esta tese que abre caminho a todos os abusos e coloca o jornalista numa posição de julgador de carácter, que é um acto, ele próprio, do mesmo tipo do discurso moralizador do político que ele denuncia. A moral do julgador tornava-se ela própria matéria de julgamento. Não demoraria muito até que a vida pública fosse uma continuada patrulha do carácter. [...]
Carrilho, ao revelar a sua vida privada, faz mal, mas supunha-se que a imprensa séria, num mundo ideal, o deixasse a falar sobre essas matérias com as revistas cor-de-rosa. ou seja, não lhe fazer o jogo. É verdade que sempre se pode argumentar que isso deixa o problema intocado, porque Carrilho precisa dos leitores da "Lux" e da "Olá", e não dos do PÚBLICO, para estas matérias. Para o PÚBLICO, ele fala de política dura ou de filosofia. Mas se, violando a sua dignidade pessoal, Carrilho está a ferir-se a si próprio, violando a privacidade mesmo de uma figura pública, a comunicação social está a ferir a sanidade da vida pública no seu conjunto.
Isto não signifique que a imprensa não condene a atitude de Carrilho, acto inteiramente legítimo num tratamento editorial ou de opinião, mas isso é fundamentalmente distinto de acrescentar às inconfidências de um político, outras inconfidências consideradas diminuidoras do seu carácter. O que é errado na "Focus" é o pingue-pongue de dados pessoais para permitir a confirmação de um julgamento de carácter.
Estes eventos acontecem num contexto de contínua erosão da privacidade e da intimidade das pessoas públicas (e não só, também dos cidadãos comuns, só que não damos por ela) por parte da comunicação social.



No meio disto tudo, que jornalista ou comentador vai elogiar as (potencialmente justas) críticas no livro de Carrilho que não li?

1. Uma pedrada no charco, ou os coveiros da Cidadania]