19 junho 2003

VITAMEDIAS
Como é também para isto que servem os blogs, aqui estão as notas retiradas à pressa da conversa desta noite na Antena 1 sobre a blogosfera no programa “Escrita em Dia” liderado por Francisco José Viegas (FJV) com Nuno Costa Santos (NCS, o “único casado” do Desejo Casar), Pedro Lomba (PL, ex-A Coluna Infame), Pedro Mexia (PM, Dicionário do Diabo) e José Mário Silva (JMS, do Blog de Esquerda que tem o “cuidado de não misturar águas com o Bloco de Esquerda”).
[Desculpas aos intervenientes e leitores por algo que me tenha escapado ou sido apressadamente escrito. Os comentários estão à disposição para corrigir o texto. Não se espere qualquer “pirâmide invertida”, foram as notas ao sabor da conversa.]
NCS começou por afirmar ser um “novo rico da blogosfera”, dada a recente chegada, enquanto PL divulgou um seu novo blog possivelmente denominado “Ginecologista Casto” [já existe um com um “post” de um Pedro...] e PM anunciou o Dicionário do Diabo, onde se explica o porquê da coisa e que será mais abrangente e não apenas político).
FJV começou por lembrar a questão levantada pelo Abrupto sobre o umbiguismo na blogosfera nacional a que JMS respondeu que os blogs “também são um media alternativo, são diários e Pacheco Pereira é pouco propenso a falar de si mas não deve haver anátema sobre isso”. Os blogs representam personalidades, “são blogs de personalidades”, referiu.
Para PL, “blogar não é um género de escrita” comparável ao da imprensa ou dos livros mas acabou por considerar que se tratava de “um género de escrita fértil”. Mas “não é um género alternativo, vive da imprensa mas não temos cronistas que vivam disso”. “Não tenho blog, infelizmente” e recordou o episódio ocorrido ontem em que Zézé Beleza o deixou atravessar uma passadeira numa rua e “era um ‘post’”, na sua cabeça aquilo dava um “post”, “não dava uma crónica mas apenas 5 linhas”, realçando que os blogs servem para estas “pequenas crónicas, há uma pulverização das crónicas e que não é jornalismo”. Mas que se introduz no jornalismo [como sucedeu com a “mistificação” sobre as declarações de Wolfowitz] e “é benéfico para o jornalismo mas não substitui os jornais, é outra coisa”.
Por outro lado, “há um excesso de protagonismo na blogosfera”. A Coluna tinha “500 ou 700 leitores diários, não é importante”, referiu Lomba, embora haja “reacções por vezes de pânico por quem está de fora da blogosfera”, o que não sucede “com quem está por dentro”.
Ainda neste sentido, considerou que os blogs “são um incentivo para os jornais melhorarem”, têm “incisividade, graça” mas que são mundos diferentes: “em pequeno, não queríamos ser bloguistas mas jornalistas”.
FJV, que lançou ontem o seu Aviz, questionou-os então como “pioneiros” sobre o fenómeno bloguista. JMS lembrou uma primeira fase em que “o jornalismo clássico o menosprezou” mas acordou para ele e o que “tornou o fenómeno interessante foi a entrada de muitos, como jornalistas, e de Pacheco Pereira”.
Quanto à facilidade da deslocalização para qualquer um ter um blog, levantada por FJV, PM lembrou a questão dos comentários e que o Blog de Esquerda “é dos poucos que têm algum interesse mas que baixou o nível recentemente – a agressividade e o insulto são muito livres”.
Mexia (ou PL ou JMS?) explicou então que “já estamos na terceira geração” dos blogs, “quando apareceram blogs mais políticos – já havia outros, alguns de música muito interessantes – mas a política interessa a todos”. E com textos curtos, que “não é possível na imprensa, como o faz a Voz do Deserto, isso não funciona na imprensa”.
JMS regressou aos comentários para lembrar que houve “posts” com mais de 130 comentários – na polémica com a Coluna Infame – e que há “comentadores fixos, que deviam ter os seus ‘blogs’ porque escrevem bem” mas há também uns “franco atiradores”. “Evitámos fazer censura, sou contra isso, mas acabei por fazer ameaça” e foi considerado de direita. “Os comentários não são um sub-blog, é uma continuação”.
E há mais blogs de direita ou de esquerda, questionou FJV? “Há mais de direita, segundo me informei”, referiu NCS, mas muitos blogs “tratam da política como se tratassem da sua virilidade” e “há um certo exibicionismo político na blogosfera”.
Para Lomba, “estamos todos a aprender, a construir um estilo e o comentário político é uma arte que se treina”, não é como Pacheco Pereira que “cria o seu blog e os jornais olham para a blogosfera”. E “gosto muito da subjectividade que os blogs têm, não é como os jornais cheios de informação acessória”.
Mexia lembrou que “quando começaram os blogs políticos em Portugal foi na altura da guerra do Iraque”, com implicações políticas de direita ou esquerda mas “num momento muito politizado”. Momento em que muitos não se sentiam representados na imprensa, havia uma “sub-representação” mas “reivindicaram esse espaço” dos blogs e isso “pode ser um factor correctivo da imprensa”.
Em termos de qualidade da escrita, que surpreendeu FJV, o mesmo ocorreu com JMS: “foi uma surpresa na blogosfera, pessoas que não escrevem em jornais ou livros, com uma qualidade espantosa – não esperava ver tantas pessoas a escrever tão bem”. Ao contrário dos “posts” que são muitas vezes escritos rapidamente, “a escrita não é apressada e foi uma surpresa”, realçando um blog como A Memória Inventada a que os editores deveriam estar atentos – “tem uma qualidade literária superior ao que se escreve hoje em Portugal”.
A par da qualidade (nalguns blogs), outros primam pelo humor. No entanto, NCS salientou haver uma “tirania da piada, a ideia de que em cada português há um humorista”.
Para finalizar, três blogs de eleição à escolha dos quatro:
PL: Voz do Deserto, Um blog sobre Kleist, Liberdade de Expressão;
JMS: Janela Indiscreta, Ponto e Vírgula, Gato Fedorento;
PM: Blogue dos Marretas, Cruzes Canhoto, Ponto Media;
NCS: O País Relativo, Gato Fedorento, É a Cultura, Estúpido!
E assim aconteceu.