04 junho 2003

CONTAMINANTES
"Food for thought":
O Ubíquo Mr. Lovegrove levanta a questão do corporativismo bloguista [cito na sua totalidade, peço desculpa...]: O Mundo dos Blogs em PT (MdBePT) começa a ter já alguma dimensão. Indexados já passam dos quinhentos, mas só uma minoria que nem a 10% chega será relevante e digna de menção pelos padrões dos que os mantêm. Por exemplo, eu pertenço claramente aos outros 90% pelos meus próprios padrões e seguramente pelos padrões dos outros.
Esta avaliação é feita por mim baseada na percepção que tenho ao ler os meus vizinhos de blogosfera pertencentes a esses tais 10%. Esses vizinhos costumam ter um ego inchado, normalmente considerando-se relevantes a si e às suas opiniões. Desprezam os diários e as opiniões do blogueiro comum, mas exultam de felicidade quando um novo blog aparece desde que seja mantido pelo académico, pelo periodista, pelo conhecido cronista ou mesmo pelo amigo. Esses 10% do MdBePT não são democráticos, não há lugar para outsiders; o círculo é restrito e só entra quem tenha cartão da casa ou garrafa no bar. Não são democráticos porque nesses 10% muitos escrevem na imprensa ou têm ligações institucionais que não lhes permitem ser democráticos, sendo claro para mim que nenhum quer ser o Peter Arnett português, opinando sobre o que "não deve" ou visto como um radical "renovador" seja de que instituição for.
É normal vê-los a citarem-se uns aos outros, a discutir a opinião uns dos outros, a elogiarem-se mutuamente mas também a discordarem entre eles sobre quem deles é afinal o dono da verdade. E tem graça fazerem-no nos seus próprios blogs e não no blog que começa a polémica. Com sistemas de comentários instalados e endereços de e-mail disponíveis, preferem levar ao seu próprio blog quem quiser acompanhar a discussão. Se isto não é uma demonstração de narcisismo, então não sei o que é.
Num exemplo concreto que até é desprovido de polémica, Pacheco Pereira no Abrupto pede para que lhe façam chegar listas de sugestões sobre objectos em extinção. Em vez de lhe enviarem as suas listas, alguns preferiram fazem posts nos seus próprios blogs sobre o assunto. Mas e depois, mandam-lhe um mail a avisar, tipo "Caro JPP, no meu blog tem uma lista de sugestões, cumprimentos"? Isto só a mim não faz sentido?
Esses 10% do MdBePT não são uma comunidade, são uma famiglia siciliana em luta pelo posto de capo di tuti capi das opiniões, apesar do respeito (ou temor) que têm pelas linguas uns dos outros.
Também o Paulo Querido salienta que "o Abrupto voltou a ser citado no Público, desta vez na coluna "Diz-se", que é uma revista dos outros media [...]
é mais um prego para o caixão dos blogueiros armados em ases mediáticos, que acham que basta publicar (de tornar público, acessível) para se ser citável.
não basta. é preciso ser reconhecido. ser voz reputada e respeitada. algo que só se ganha com duas coisas: tempo e competência.
JPP não nasceu reputado: teve de dar muito ao dedo (e à voz) antes que a sociedade lhe ganhasse respeito.
ninguém nasce iluminado.
adenda: um jornalista tem um treino específico de comunicar pela palavra. nestas circunstâncias, é absolutamente normal que um blog de um jornalista tenha uma vantagem sobre o blog de um indivíduo que, a despeito da sua putativa melhor (in)formação, não tem treino em comunicação."
Finalmente, o blog que supostamente divulga os eventos do "É a cultura, estúpido! não apresenta uma linha sobre o evento de hoje mas a sua publicitação está feita em diferente blogs de personagens ligados ao evento.
São três exemplos que assaltam a minha consociência para a realidade: a blogosfera nacional apenas traduz a realidade portuguesa. Realmente, porque deveria ser diferente?...