24 março 2003

VITAMEDIAS
Entrevista com Richard Zimler, escritor e professor norte-americano radicado no Porto
- Acha possível, hoje, um norte-americano comum saber o que se passa realmente no mundo?
Possível é, mas é difícil. A maioria das pessoas não quer pesquisar um assunto para ter informações certas, prefere comprar o jornal. Só uma pequena minoria vai à Internet procurar informações alternativas, mas elas existem. Hoje em dia, felizmente, podemos aceder a uma infinidade de sites que nos dão perspectivas diferentes sobre um mesmo acontecimento.
- Até que ponto essa perda de diversidade nos media tradicionais alastrou ao resto do mundo ocidental?
Basta pegar no exemplo da CNN. É ali que se estabelece a ordem do dia para muitos outros media.
- Pode dar-se o caso de, na guerra contra o Iraque, estarmos a acompanhar quase uma ficção?
Eu não diria uma ficção, mas uma construção da realidade.
- Feita ao serviço de quem?
Os jornalistas dizem que é ao serviço do público. Eu diria que grande parte é ao serviço dos publicitários e dos donos de empresas que detêm jornais, televisões e rádios. [...]
- É apologista de uma troca dos media tradicionais pela Internet?
Não. O que eu acho é que todos os alunos, em todos os países, deviam ter desde cedo - não sei qual é a idade ideal - uma formação de decifração do jornalismo e da comunicação social. Deviam ler jornais com o professor e decifrar o que está dito entre as linhas dos artigos ou das reportagens, falar sobre quais são outras possibilidades de encontrar informações diferentes, o que está a ser omitido e por aí fora. Se tivéssemos gente formada, não acreditaríamos em tantas informações idiotas. Por exemplo: Bush e Blair estão fartos de dizer que têm uma grande solidariedade para com o povo iraquiano; ora, se alguém dissesse aos alunos que esta gente já matou, segundo as estatísticas da ONU, 700 mil crianças com o embargo, eles poderiam ter uma ideia mais exacta do que significa essa solidariedade.